Firmeza na fábrica da Triumph <br>merece ainda mais solidariedade

RESISTIR Completam-se duas semanas de vigília permanente dos trabalhadores, em defesa do presente e do futuro da fábrica de que a multinacional Triumph se desfez e que a Gramax levou à insolvência.

A vigilância dos trabalhadores impede a destruição sem lei

Um tão duro quanto digno diário continua a ser escrito pelos trabalhadores (mulheres, na sua maioria) da antiga Triunfo Internacional, que a alemã Triumph instalou em Sacavém em 1961 e que, ao fim de décadas de sucesso e lucros, decidiu alienar em 2015.
Já por várias vezes se comprovou a necessidade da vigília, iniciada no dia 5 e cumprida dia e noite, quer chova, quer faça sol. Foram frustradas tentativas de retirar mercadoria (peças terminadas) e automóveis. Por outro lado, os piquetes organizados em turnos de quatros horas servem também para transmitir informações e orientações e para receber as mais diversas expressões de solidariedade.
Num comunicado que emitiu ontem, dia 17, a Comissão Concelhia de Loures do PCP saudou e valorizou «a enorme solidariedade que tem sido manifestada, quer por organizações sociais, quer por trabalhadores e população do concelho e do distrito». Este «alargado e generoso apoio político e material» – com ofertas de «água, leite, café, bolos, pão, sopa e carne, entre muitos outros alimentos», e também de «lenha, fogareiro, pavilhões, apoio logístico» – tem sido «um suporte de primeira importância para a manutenção e continuidade desta luta pelo direito ao trabalho e ao salário».
No entanto, a luta «carece de um alargamento ainda mais significativo» deste apoio. O Partido «lança um apelo aos trabalhadores, à população, às várias organizações sociais do concelho, para que se organize um ainda mais vasto e generoso movimento de solidariedade política e material para com as trabalhadoras» da fábrica em Sacavém.
No mesmo comunicado, por outro lado, manifesta-se estranheza face ao «silêncio ensurdecedor dos vários ministérios e serviços sociais estatais, designadamente, a Segurança Social». «Perante uma realidade social desta natureza, em que a fome já entra em casa de várias trabalhadoras, em que falta em muitas condições materiais para pagar a água, a luz, o transporte público, a creche e o infantário, não é explicável tal atitude do conjunto do Governo», protesta a Comissão Concelhia, defendendo que «é preciso reagir com coragem, sem medo dos poderes económicos e financeiros e acreditando na capacidade de produzir dos trabalhadores e das empresas portuguesas».
«Silêncio, ausência e fechar de olhos» do Governo e do Presidente da República é um comportamento «sobretudo estranho e incompreensível para as cercas das 500 trabalhadoras e respectivas famílias», «vítimas de uma política que não aposta na sua capacidade de fazer bem».

 

Presentes e activos

Militantes do PCP e eleitos da CDU nos órgãos do Município de Loures e na Freguesia de Sacavém têm sido, a par de dirigentes sindicais, uma presença constante junto das trabalhadoras em luta.
No dia 10, quarta-feira, de tarde, esteve no local o Secretário-geral do Partido, calorosamente recebido. Jerónimo de Sousa, numa breve intervenção, informou sobre o trabalho realizado pelo PCP na Assembleia da República. Nesse mesmo dia, na comissão parlamentar de Economia, uma proposta do Partido visando a viabilização da empresa foi aprovada por todos os grupos parlamentares (e seria aprovado, também por unanimidade, um projecto de resolução apresentado a 15 de Dezembro, dois dias depois de ter sido comunicado o recurso da Gramax à insolvência).
Ao referir que fora aprovada também a convocação do ministro da Economia (para dia 16, terça-feira), Jerónimo de Sousa recordou que o governante «esteve na empresa, quando foi encontrada a solução anterior», observando que «não se compreende, as trabalhadoras não compreendem, porque é que agora, numa situação mais dramatizada, o senhor ministro pauta pela ausência».
O dirigente comunista realçou que a ex-Triunfo Internacional «é uma empresa que tem mercado, que tem viabilidade, que tem excelentes trabalhadores e trabalhadoras com conhecimentos e com saberes», enquanto o seu desaparecimento teria grande impacto social.
«Valorizamos muito esta determinação, este espírito de sacrifício das trabalhadoras, dia e noite aqui, a tentarem impedir que as máquinas saiam da empresa, o que tornaria o processo irreversível», afirmou Jerónimo de Sousa, enaltecendo este «exemplo gritante de gente que está tão ameaçada e está aqui, de cara levantada, ao frio, à chuva, determinada em resolver o problema o mais breve possível».
No dia 11, quinta-feira, cerca das 17 horas, deslocou-se até junto do portão da agora Têxtil Gramax Internacional uma delegação da Comissão Executiva da CGTP-IN, incluindo o Secretário-geral, Arménio Carlos, para transmitir um voto de saudação à luta das trabalhadoras.
Durante uma rápida reunião, realizada no momento da mudança de turnos (na sua maioria, as trabalhadoras continuam a cumprir o horário normal), uma dirigente do sindicato relatou que nesse dia tinha estado na fábrica um cliente, para levantar mercadoria, dizendo que uma parte até já estava paga. Foi-lhe dito que os trabalhadores e o sindicato não podiam permitir qualquer saída de património, o que teria de ser decidido pelo futuro administrador judicial, e, como relatou Manuela Prates, foi-lhe explicada a situação que se estava a viver e «o cliente, Dominic Belino, acabou por desejar muita força e muita coragem» às trabalhadoras.

Quem foi enganado?

Num plenário, a 15 de Julho de 2016, os trabalhadores expressaram a sua apreensão perante as afirmações de Markus Spiesshofer (do trio que domina a Triumph International Spiesshofer & Braun KG, com sede na Suíça e origens na Alemanha) numa reunião realizada dia 12. A filial portuguesa iria ser alienada a uma empresa suíça, a custo zero, e a Triumph garantiria encomendas por alguns meses.
Como o Sindicato dos Têxteis do Sul então relatou, Markus Spiesshofer disse que a multinacional não precisava de tanta produção, que ao nível global estava a perder dinheiro e que em Portugal a produção era duas vezes mais cara do que na Ásia. Mas assegurou que a Triumph procurara uma empresa com um plano para dar continuidade à fábrica em Sacavém; a então não identificada empresa suíça tinha um plano, iria manter a produção, as vendas e o desenvolvimento do produto e os seus donos até estavam dispostos a investir.
O plenário tirou a camuflagem às declarações patronais. Foi aprovada uma resolução a acusar que aquele negócio visava apenas a desresponsabilização da Triumph, uma vez que a venda não previa o pagamento das suas responsabilidades, mas sim passar para a empresa suíça os trabalhadores e os encargos associados. Com todas as letras, ficou então afirmado, na voz colectiva dos trabalhadores, que «a Triumph International pretende que seja a empresa adquirente a assumir todas as consequências da sua saída de Portugal».

 



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